Racismo no Brasil - Carla Caldeira / Anhembi Morumbi
Por Carla Caldeira, estudante de jornalismo da Universidade Anhembi Morumbi
Dia das crianças de 2004. Tive que ir trabalhar e deixar minha filha Luana, de dois anos, com a avó dela. Às 15 horas, já estava de volta para buscar a Luana. O meu marido já tinha descido e estava nos esperando no carro. Despedi-me de minha sogra e fomos para o elevador. Chega uma jovem senhora com seus filhos, uma menina de mais ou menos seis anos e um menino aparentando oito anos. Todos nós entramos no elevador. A mulher começou a puxar assunto me perguntando se a Luana ficava na casa da minha sogra, (onde o condomínio é de classe média-alta) e eu disse que não, que ela não residia lá. Continuando com o questionamento, ela queria saber se eu cuidava da Luana durante a semana, e eu disse que "não, só de fim de semana, durante a semana ela fica na creche". Quando para a minha surpresa ela me pergunta "Mas cadê a mãe dela?". Foi aí que eu comecei a entender tudo, o porque de tanto questionamento... Ela pensava que eu era a babá da minha filha. Eu, uma mulher descendente de pai negro e mãe branca, com acentuada característica negra quer na cor da pele quer no tipo do cabelo, e, a minha filha, embora tendo como pai um homem branco, descendente de italiano,e, ainda que ela possua a pele branca e o cabelo castanho claro, o seu nariz olhos e boca são iguais aos meus. Claro que eu, num tom de indignação, disse a esta senhora "Eu sou a mãe dela!".
Situações como essas, infelizmente, são formas características da descriminação ao negro no Brasil.
A constituição de 88 transformou o racismo em crime. Num país de cultura racista e não declarada como a do Brasil, acusações de discriminação racial acabam, quando muito, em qualquer delegacia sendo desqualificados e transformados em meros crimes contra a honra.
Quando você pega todos os indicadores sócio-econômicos verá que há uma realidade trágica para os negros no Brasil (ver tabela 1.1).
Atualmente, somos a segunda maior nação negra do planeta, só menor do que a Nigéria. A miscigenação brasileira supostamente deveria enfraquecer o racismo, mas não é o que ocorre. Num país multirracial, não se vê negros nas propagandas televisivas, nem como recepcionistas, nem como vendedores em shoppings, pouco se vê negros em faculdades (particulares ou públicas) e tão pouco em cargos executivos e diplomáticos.
Todos nós estamos cientes, ou deveríamos estar, que o racismo no Brasil é muito forte e causa sérias conseqüências como o caso do bacharel em odontologia Flávio Ferreira SantAna, onde cinco policiais foram presos sob a acusação de assassinarem o dentista, tendo como agravante o fato de colocarem uma arma na mão de SantAna para simularem um tiroteio, como mostrado na reportagem do dia 18 de fevereiro de 2004 na Folha de São Paulo, caderno Cotidiano. Flávio era negro e foi confundido com o homem que havia roubado pouco antes um comerciante. Esse foi só mais um de tantos episódios que mostra como alguns setores da sociedade costumam tratar os negros e principalmente a instituição policial, que ao invés de proteger o cidadão negro, mata-o. Na ocasião, o Ministro da Justiça fez uma declaração à revista ISTOÉ, de 16 de fevereiro, que aponta claramente a não existência da democracia racial. "Os elementos sensíveis e exteriores mostram a presença do preconceito, o negro é sempre suspeito", disse o ministro Márcio Thomaz Bastos. Essa afirmação foi mais uma demonstração da disposição de setores do atual governo em lutar contra o racismo em nossa sociedade. Mas isso não basta para que a erradicação do racismo em nossa sociedade ocorra.
No contexto da luta contra o racismo na sociedade brasileira, em meados de 1985, o Movimento Negro se reorganizou e ganhou maior visibilidade -sem perder a referência histórica que na década de 30 existiu a Frente Negra Brasileira e o TEN (Teatro Experimental do Negro). Multiplicaram-se as pesquisas acadêmicas que denunciavam as diferenças raciais. Mas foi somente na década de 90, que alguns segmentos do Movimento Negro passaram a enxergar um jeito de atuar e se organizar em busca dessa erradicação em decorrência desse processo de mobilização. No governo de Fernando Henrique Cardoso (1994-2002), a existência do racismo foi amplamente reconhecida pelo governo federal, o que levou à ampliação da discussão e ao surgimento de algumas iniciativas de políticas de ação afirmativa no Brasil (inspiradas no modelo norte-americano, como veremos mais adiante) visando combater a discriminação racial. Deve-se ressaltar um fato muito importante que foi, somente, a partir de 1995, que o movimento negro conseguiu que o governo federal determinasse que o dia 20 de novembro - dia do assassinato do líder quilombola, Zumbi dos Palmares, (Alagoas, 1655 - Palmares, 1695) - se tornasse o Dia Nacional da Consciência Negra.
Cecilia
Comments (3)
Sofia Hur said
at 10:56 pm on Oct 20, 2009
Este reportagem foi muuuuuito interessante :)
Cecília Wang said
at 9:40 pm on Oct 28, 2009
que legal voce gosta!!!
Sonia lishuang said
at 9:24 pm on Nov 18, 2009
reportagem com análise detalha~~hmm~~legal~~completa~~
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